terça-feira, 5 de maio de 2015

Coimbra, a saudade



"Lembro-me da primeira vez que te vi, realmente, vestida de negro e iluminada por uma lua enorme cor de pérola. Senti uma certa vertigem cá dentro, um orgulho imenso que ainda hoje não consigo explicar. Nesse momento percebi o verdadeiro porquê das baladas, do choro das guitarras. Observei a disposição de cada edifício; a universidade lá no alto; a Cabra a guardar cada canto, cada pedra. Senti-me em casa, no verdadeiro sentido da palavra casa. Como se fosses uma extensão física de mim. Uma necessidade lógica de viver para lá do meu corpo.
Desde esse dia até hoje, passaram-se anos. O tempo é inevitável. Passa por nós e vai-nos transformando aos poucos. Mas há coisas que ficam marcadas por dentro. Coisas que guardamos de forma a que sejam eternamente nossas. De ti guardo todos os momentos que me trouxeram até aqui. As conversas partilhadas entre os amigos que me apresentaste e que guardarei para a vida. As gargalhadas e as noites dessa juventude sónica que parece ter passado a correr. Os primeiros sorrisos dos amores começados à beira rio; as últimas lágrimas choradas em bancos de jardim por esses mesmos amores. De ti guardo esse ponto cardeal que será para sempre a minha juventude. O porto de abrigo necessário que continuarei a procurar e a recordar ao longo da vida. Guardo essa ténue linha que separa essa mesma juventude da idade adulta. A metamorfose de quem entra menina e sai mulher. Guardo de ti essa saudade dos passeios nas tardes de primavera. O calor infernal das tardes de Junho. A beleza das tuas entranhas feitas de pedras históricas e conhecimento. A alegria dos cortejos de caloiros e finalistas. Guardo de ti as músicas cantadas em uníssono de copo na mão. A capa negra que me lembrará para sempre dessa primeira noite em que te vi com olhos de gente; a mesma capa que um dia vesti com tanto orgulho.
Muito fica por contar. As melhores histórias, guarda-as o silêncio. São apenas nossas. Chegámos ao fim da canção. É hora de partir com a certeza desse passado. Com a certeza desse futuro que começou em ti. "










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