quinta-feira, 3 de setembro de 2015

É tempo de vindimar


Em casa dos meus avós esta era uma época de grande azáfama. A produção do vinho exige longas jornadas de trabalho. Nada que amedronte as gentes do campo, habituadas aos rigores dos trabalhos agrícolas. E, até os miúdos entram nesta grande celebração que é apanha da uva. Saltar para dentro da tina, que na altura era de madeira, e pisar os cachos, ao lado do avô era a minha grande perdição.
Nos primeiros dias de Setembro, o avô demolhava e selava as pipas de madeira. Lavavam-se os cestos. Afiavam-se as tesouras. E iam buscar- se os chapéus de palha ao sótão.
A avó preparava a bucha que se havia de comer na vinha. Arroz de cabidela. Chouriços. Queijos e pão da serra. E no dia marcado, bem cedinho, para evitar as horas de maior calor, os vindimadores reuniam-se  lá em casa.
A dedicação com que o avô tratava a vinha, ao longo do ano, reflectia-se em boas colheitas. Cortavam-se cachos, horas a fio. E, já o dia ia longo, quando se chegava à adega para a pisa da uva, à qual se seguia uma ceia bem farta.
O avô era o último a sair da adega. Depois da lagarada, recolhia um pouco do sumo das uvas e media o teor de álcool e de açúcar presentes no mosto, de modo a ajustar a quantidade de químicos a adicionar.
A fermentação do vinho, no tanque, demora cerca de uma semana, durante a qual o néctar tem que ser mexido, diariamente. E depois há que o passar para as pipas, onde irá repousar por dois a três meses, antes de ser consumido ou comercializado.
Em casa do avô aproveitavam-se os restos do mosto para fazer aguardentes. Mas, o melhor da vindima ainda estava para vir. Eram as uvas que a avó guardava, estendidas em sacos de papel no sótão, durante o Outono. Um regalo. Passadinhas. Adocicadas pelo passar dos dias.







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