terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Igarei # o regresso à terra #

Igarei é uma aldeia pequena e tranquila. Sem trânsito. Nem pressas. Feita de ruelas estreitas, definidas pelo casario em pedra típico da Beira Alta.

Ainda há pastores. Foi o senhor Vasco quem me deu as boas-vindas, na sexta-feira, ao cair da noite. Cruzámo-nos na rua Direita. Ele no cumprimento da sua rotina diária, acompanhado pelo seu cão pastor. Era hora de recolher o gado. E eu acabada de chegar a Igarei, com o jantar marcado na Tasquinha dos Guedes.
Ainda há lavradores. Atualmente, grande parte dos trabalhos são executados com recurso aos tratores agrícolas, mas ainda se vêem alguns carros de bois. Ainda corre água nos ribeiros. As azenhas sobreviveram ao tempo, "para contar a História. Que, hoje, já não são utilizadas na moagem dos cereais." E corre água, também, nos chafarizes. Há vários na aldeia, para abastecimento da população.
O povo é madrugador. Cabe aos galos anunciar o começo de mais um dia de trabalho. O Domingo é excepção. É dia de cumprimento das obrigações religiosas. E de preguiçar à volta do lume. Que faz frio, muito frio nesta altura do ano. Há quem prefira ir ao Guedes, uma casa familiar, onde servem petiscos, almoços e jantares tipicamente rurais. E onde se fazem os grandes convívios.

Abri a janela do Esteva, um dos quartos que fica no último andar da Casa de Igarei. Estava um frio de rachar. A Serra do Caramulo trajava de branco. Com o aumento da temperatura o branco cedeu, lentamente, o lugar aos verdes e aos doirados usuais desta época.

A luz solar tem dificuldade em penetrar nas ruas. Fez-me companhia, a custo, na minha primeira manhã em Igarei. Que, além de pernoitar na aldeia, quis ver de perto os chafarizes, o moinho de água e a Capela de Nossa Senhora das Neves.





Foi o senhor Vasco quem me levou ao moinho. Conversámos sobre a aldeia, o povo, e o trabalho no campo. Não foi demorada a conversa. Que os animais pressentido a presença do dono clamavam pela sua atenção.



Capela de Nossa Senhora das Neves.

Largo da Capela de Nossa Senhora das Neves. Sabem o que são aquelas casinhas de madeira elevadas? São espigueiros e servem para guardar os cereais.  As coisas que eu aprendi em Igarei!!!

Ir 

Igarei pertence à freguesia de Queira, que fica "entre as majestosas Serras do Caramulo e da Galheira, deliciosamente pousada sobre as faldas do Monte de Nossa Senhora." O acesso faz-se através do IP3 ou da A 25. Entrei no IP3, em Coimbra. O rio Mondego fez-me companhia durante grande parte do percurso. A paisagem é maravilhosa. Optei pela saída que leva diretamente ao Montebelo Golfe. Queria passar por lá antes de seguir para Igarei. Foi uma ótima opção, além do campo de golf, há um centro de equitação e Torredeita fica ali ao lado. Encantou-me! Mas, conto-lhe depois. De Torredeita a Igarei são meia dúzia de quilómetros. Que se fazem entre o verde intenso dos pinheiros e o dourado do arvoredo de folha caduca. Sem trânsito. E sem pressas, cousas próprias da região.


Dormir

Pernoitei na aldeia, na Casa de Igarei. Que é de facto uma ótima opção para explorar a região, dada a proximidade de Tondela e Vouzela, de São Pedro do Sul e de Viseu. Era uma casa de família, que foi reconstruída e adaptada ao turismo rural. Foram preservadas as paredes de pedra tipicamente beirãs, tanto nos quartos como nas áreas comuns, espaçosas e arejadas. A cozinha está totalmente equipada, incluindo com um fogão a lenha. Que os Invernos são rigorosos. Mas, não é imperativo acender o fogão, a casa tem ar condicionado.
Os quartos são quatro, três duplos e um triplo. Apenas um não dispõe de casa de banho privativa. A decoração é simples. Sóbria, mas com apontamentos deliciosos. E estava tudo muito limpinho, para meu júbilo.
Fui recebida com um sorriso enorme. Sincero. Quase familiar. E senti-me em casa. O pequeno almoço foi servido pela dona da casa. Havia pão de água e de mistura. Croissants. Compotas. Manteiga. Cereais. Café. Chá. Leite. E companhia para conversar, tão boa que deixei a próxima visita agendada. Pode marcar a sua aqui.

Quarto, Casa de Igarei.


Além deste espaço maravilhoso, a Casa de Igarei dispõe ainda de um pátio e de estacionamento privativo. Em breve hão-de haver música ao vivo e tertúlias.

 Comer

Sabe receber o senhor Guedes. Aliás, a arte de bem receber parece-me própria de Igarei. Recomendaram-me a Tasquinha dos Guedes na Casa de Igarei. " Vá ao Guedes. É uma experiência única para quem vem de fora. Genuína."
Receberam-me de braços abertos. Ele, a mulher e os filhos. E o casal que jantou comigo. Que não houve espaço para individualidades. E a conversa prolongou-se noite dentro, em frente ao fogão a lenha e a uma chávena de chá. Maravilhoso!!!
É ele quem cozinha, o senhor Guedes. Inspirado nas receitas do Chef Hernâni Ermida. Trouxe à mesa um prato de bacalhau frito com batatas assadas e couve portuguesa. E outro de vitela de Lafões. Mas, as entradas eram mais do que suficientes, para mim. Alheira. Chouriço de porco preto. Orelheira. Azeitonas retalhadas. E broa.
O jantar é normalmente regado com vinhos do Dão. Foi servido com o vagar usual das casas rurais. E finalizado com uma baba de camelo caseira divinal, feita pela esposa do senhor Guedes. Que opta por fazer as sobremesas que sabe "que saem bem." Além da baba de camelo, há bolo de bolacha e tarte de requeijão.






 Foi tão bom o fim-de-semana que passei entre Igarei e Viseu. Fui tão bem recebida, como se fosse das casas, há anos. Comi tão bem, tanto na Casa de Igarei, como nos Guedes, como em Viseu. E fiquei a conhecer uma região cheia de encantos históricos, naturais e gastronómicos. E de boa gente.Vou mostrar-lhe tudo nos próximos dias. O ponto de partida será sempre  Casa de Igarei














Nenhum comentário:

Postar um comentário